Resenha | O Senhor das Moscas

segunda-feira, 15 de maio de 2017
Autor: William Golding
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 258
Ano: 2011
Classificação:

Skoob
SinopsePublicado originalmente em 1954, Senhor das Moscas é um dos romances essenciais da literatura mundial. Adaptado duas vezes para o cinema, traduzido para 35 idiomas, o clássico de William Golding — que já foi visto como uma alegoria, uma parábola, um tratado político e mesmo uma visão do apocalipse — vendeu, só em língua inglesa, mais de 25 milhões de exemplares. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, um avião cai numa ilha deserta, e seus únicos sobreviventes são um grupo de meninos em idade escolar. Eles descobrem os encantos desse refúgio tropical e, liderados por Ralph, procuram se organizar enquanto esperam um possível resgate. Mas aos poucos — e por seus próprios desígnios — esses garotos aparentemente inocentes transformam a ilha numa visceral disputa pelo poder, e sua selvageria rasga a fina superfície da civilidade, que mantinham como uma lembrança remota da vida em sociedade. 
Ao narrar a história de meninos perdidos numa ilha paradisíaca, aos poucos se deixando levar pela barbárie, Golding constrói uma história eletrizante, ao mesmo tempo uma reflexão sobre a natureza do mal e a tênue linha entre o poder e a violência desmedida.
A nova tradução para o português mostra como Senhor das Moscas mantém o mesmo impacto desde o seu lançamento: um clássico moderno; um livro que retrata de maneira inigualável as áreas de sombra e escuridão da essência do ser humano. 
Na época de seu lançamento, em 1954, O Senhor das Moscas incomodou muita gente. Talvez pelas críticas políticas disfarçadas, ou pelas cenas consideradas muito "pesadas" para a época, não sei dizer. Mas posso afirmar que levou muito tempo para a obra ser reconhecida pela sua qualidade e levar o Nobel de literatura em 1983. Atualmente é um dos livros mais debatidos e controversos já escritos, e quero falar um pouquinho sobre o que senti durante esta leitura.

A história não é complexa: um grupo de garotos que não ultrapassam os 14 anos sofre um acidente aéreo e acaba aterrizando em uma ilha no meio do nada. Sem a supervisão de adultos, esses meninos se vêem em situações em que colocam à prova seu instinto de sobrevivência e organização social, à medida que o lado mais cru e selvagem de cada um vai aflorando.

Tive muita dificuldade com esta leitura. A linguagem de William Golding não é das mais complexas, porém seus diálogos soaram muito forçados pra mim, sem fluidez nenhuma. Mesmo se passando na época da Segunda Guerra Mundial, acho difícil acreditar que crianças falem daquele jeito. A quantidade absurda de frases inacabadas também me incomodou muito.
—  Mas, de qualquer forma, você precisa de um exército para caçar. Caçar porcos...
— Sim. Há porcos na ilha.
Os três tentavam comunicar aos outros o sentido da coisa viva e cor-de-rosa que lutava entre os cipós.
— Nós vimos...
— Guinchando...
— Fugiu...
— Antes de poder matá-lo...  mas... da próxima vez!
Quanto aos personagens, posso dizer que só gostei de Porquinho. Por muitas vezes ele se mostrou a voz da razão em meio ao grupo, e talvez por esse motivo fosse o menos ouvido por todos. Porquinho é uma analogia perfeita às pessoas que, em meio ao caos, tentam se manter sensatas. Poucos têm interesse em ouvir planos que não dão resultados imediatos (temos exemplos recentes como as eleições americanas e a situação política brasileira para comparar, além de outros acontecimentos históricos que acabam se repetindo ao longo das décadas).

Se você tem estômago fraco ou não gosta de cenas muito gráficas, pode ler sem medo pois não vai encontrar nada tão chocante em O Senhor das Moscas. É um livro que trabalha muito mais o psicológico dos personagens, e as ações mais drásticas geralmente ganham destaque pela sutileza (com exceção de duas cenas um pouco mais fortes).

Confesso ter pouca base para apresentar todas as analogias e os simbolismos constantes na obra, então o que posso dizer é que O Senhor das Moscas é um livro complexo dentro de sua simplicidade, e que requer o máximo de atenção da parte do leitor para ser aproveitado por completo. Uma buddy read ou discussão com outros leitores também pode ajudar bastante a esclarecer as mensagens passadas pelo autor. Digo por experiência própria, já que este livro foi proposto pelo Piquenique Literário, um projeto de leitura que participo aqui na minha cidade (São José dos Campos-SP). Ouvir as opiniões de outros leitores foi essencial para me fazer entender melhor o livro, tanto que aumentei um pouco a nota depois do encontro.

Recomendo a leitura para quem gosta de livros com muitos simbolismos, daqueles que devemos até buscar leitura de apoio para entender. Para leitores que preferem livros com um enredo mais claro, é melhor apostar em outro livro.

Beijos e até o próximo post!


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