Resenha | A (R)evolução das Mulheres

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Autora: Mindy McGinnis
Editora: Plataforma21
Páginas: 344
Ano: 2017
Classificação:
Skoob
Sinopse: Três anos se passaram desde o assassinato da irmã mais velha de Alex Craft. Mas, como é de costume, a culpa sempre recai sobre a vítima e o assassino segue sua vida em liberdade.Alex é uma menina forte e quer vingar sua irmã. Por isso, ela resolve atacar qualquer predador sexual que cruzar seu caminho e colocar a boca no mundo, usando a linguagem que conhece melhor: a linguagem da violência.
Mas o que aconteceu na noite do assassinato chama a atenção de Jack Fisher, o cara invejado por todos: atleta perfeito, que desfila de braço dado com a garota mais cobiçada. Ele deseja conhecer Alex profundamente. E, numa cidade pequena, onde todo mundo se conhece, esse repentino interesse vai desencadear uma série de crimes bárbaros.
Uma narrativa vibrante com cenas de grande impacto, A (r)evolução das mulheres é uma reflexão profunda sobre os abusos e estereótipos, que tiram a humanidade das mulheres. Mindy McGinnis nos mostra que as agressões perseguem a vida não só das vítimas, mas também daqueles que estão próximos a elas.

Aviso de gatilho: este livro possui cenas gráficas de violência e estupro.


"Olho por olho, dente por dente."

Essa é a definição de justiça para muitas pessoas, e é fácil entender o motivo. No mundo atual, onde somos bombardeados diariamente com tanta violência e crimes bárbaros, a sensação do cidadão comum é de pura impotência diante da impunidade com a qual a maioria dos criminosos é recompensada. E isso gera uma vontade secreta de que de esses criminosos sofram as punições mais violentas possíveis.

Em A (R)evolução das Mulheres, Mindy McGinnis nos traz a história de uma menina que decide vingar o assassinato da irmã com as próprias mãos, aproveitando para fazer justiça contra todo e qualquer abusador que cruzar o caminho dela, com os métodos mais cruéis que conseguir imaginar. E eu estaria mentindo se dissesse que não me senti satisfeita a cada vez que Alex colocava sua raiva pra fora. Afinal, esse não é o sonho perfeito de muita gente (principalmente mulheres) por aí?

Mas será que é assim tão simples?

O principal tema da obra é a cultura do estupro e como ela está inserida no nosso cotidiano, de uma maneira tão profunda que acaba se tornando banal. Não me considero uma expert em feminismo mas acho que o livro cumpre magistralmente seu papel em educar mulheres (e homens também) sobre o assunto sem ser didático ao extremo. Na verdade, acredito que as sutilezas dos diálogos é que são as maiores responsáveis por transmitir a mensagem da melhor forma, sem aparentar que algo está sendo “ensinado”.


Mas não se engane. A (R)evolução das Mulheres é um livro brutal e muito violento. E toda a violência é responsável por trazer questionamentos em relação à frase que citei no início da resenha, como:

  • Combater violência com violência é realmente o melhor caminho? Quais são as consequências que atos vindos da raiva e da vingança podem gerar na vida das pessoas afetadas?

  • A conscientização não pode surtir melhores efeitos a longo prazo? Ou, justamente por não conseguirmos enxergar a longo prazo, a primeira solução é a única possível?

Alex demonstra ter traços de sociopatia, mesmo tentando abrandar seu lado mais sombrio com seu trabalho voluntário e com suas relações recém-iniciadas. E eu consegui enxergar uma verdade tão grande nela que foi impossível não me apaixonar. Refletindo agora, ela me lembrou um pouco uma outra personagem super querida por mim: Helena, de Orphan Black. Alex é um pouco mais sensata que Helena, mas ambas possuem um senso de justiça muito pessoal e que não segue a mesma linha que a maioria das pessoas.

Infelizmente a protagonista não teve um background muito bem trabalhado, com informações um pouco “perdidas” sobre seu passado e sobre os acontecimentos que poderiam ter influenciado sua personalidade. Acabou soando como se ela fosse assim e pronto, e mesmo que eu tenha gostado muito dela, seria bom ter tido mais informações sobre seu passado.

Mindy acertou com Efepê e até mesmo com Jack, que foi o personagem principal que menos gostei. Ambos soaram muito verossímeis como adolescentes, sem parecer caricatos ou forçados em nenhum momento. As relações entre os três (Alex, Efepê e Jack) foram trabalhadas de maneira natural e conseguimos ver com facilidade o desenvolvimento delas. Eu poderia vir aqui reclamar do romance que sim, ficou meio perdido na história, mas acredito que a existência dele foi necessária para a evolução dos personagens envolvidos, o que é sempre válido.

O slut-shaming também está muito presente na obra, e de todos os pontos de vista. Vemos em A (R)evolução das Mulheres como o machismo afeta a todos: a menina que quer se libertar sexualmente, o garoto que precisa transar com todas para se reafirmar, a menina que põe a culpa sempre na vadia que roubou seu namorado, nunca no babaca traidor… e por aí vai. E arrisco dizer que foi nessas diversas abordagens que a autora se perdeu um pouquinho, como já vi acontecer em minha prévia experiência com ela em Uma Loucura Discreta. O que estou reparando é que Mindy possui ótimas ideias, mas acaba querendo falar de tudo um pouco e a história fica um pouco sem rumo.

Isso também se refletiu no final, que não me agradou tanto (assim como o final de ULD). Eu entendi a mensagem mas fiquei bem chateada com a conclusão dada para os arcos de certos personagens, e diria que foi a perfeita definição de agridoce. Queria poder falar mais, porém seria spoiler


Recomendo esta leitura sem pensar duas vezes. A (R)evolução das Mulheres é uma história com muita força e importância, principalmente nos dias de hoje. É preciso conscientizar as pessoas sobre os males do machismo e da misoginia, assim como suas causas e consequências.

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