Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 360
Ano: 2016
Classificação:
Skoob
Sinopse: Um grupo de jovens deixa uma pequena cidade no Paraná para viver no Rio de Janeiro. Eles alugam um apartamento em Copacabana e fazem o possível para pagar a faculdade e manter vivos seus sonhos de sucesso na capital fluminense. Mas o dinheiro está curto e o aluguel está vencido. Para sair do buraco e manter o apartamento, os amigos adotam uma estratégia heterodoxa: arrecadar fundos por meio de jantares secretos, divulgados pela internet para uma clientela exclusiva da elite carioca. No cardápio: carne humana. A partir daí, eles se envolvem numa espiral de crimes, descobrem uma rede de contrabando de corpos, matadouros clandestinos, grã-finos excêntricos e levam ao limite uma índole perversa que jamais imaginaram existir em cada um deles.
Raphael Montes já não é mais um novato na literatura nacional. O autor carioca já publicou quatro livros e vem ganhando inúmeros fãs pelo Brasil e até em outros países em que seus livros ganharam tradução. Em seu mais novo trabalho, intitulado Jantar Secreto, somos levados a uma história macabra que tem como o tema principal o canibalismo. Eu não acho que deixar isso claro logo de cara seja spoiler, até porque a capa e a sinopse entregam facilmente sobre o que a obra vai tratar.
Jantar Secreto aborda a jornada de quatro amigos que se conhecem desde crianças. Dante é um deles e o narrador da obra, e nos conta seu ponto de vista sobre os acontecimentos, com um tom de confissão. Desde o início da obra já sabemos que algo muito ruim aconteceu. A graça é saber como as coisas chegam a tal ponto, sendo que no início nem fazemos ideia do que pode acontecer. E acreditem, vai tudo ladeira abaixo.
Eu acho difícil falar da história sem soltar nenhum spoiler, acho que a sinopse já entrega o suficiente e consegue situar o leitor a atiçar a curiosidade de quem curte livros mais grotescos. No início da obra, Raphael nos situa contando um pouco do background dos amigos e em como chegaram ao ponto de ruptura que os levou a começar com os tais jantares. Cada um dos amigos é bem distinto um do outro e empenha um papel diferente no desenvolvimento do enredo. Temos aquele que se sente culpado, outro que só pensa no retorno financeiro, outro que apenas liga o f-se… Mas no fundo, achei todos bem babacas.
Falando ainda dos personagens, há um pouco de diversidade no grupo. Não são apenas caras brancos e ricos. Temos um gordo e um gay, e por mais que eu acredite que a representação de ambos não seja das mais corretas, é bom ver pessoas fora do padrão como protagonistas de livros “adultos”, ao invés de YA.
As cenas mais pesadas são bem nojentinhas sim, mas nada que tenha me traumatizado (como carne e provavelmente vou continuar comendo). É clara a tentativa de “doutrinação” do autor, que acredito que não seja vegetariano. Vários personagens reiteram que carne é só carne no final das contas, independente de onde ela venha, e que se você se sente mal com o canibalismo deveria ter dó dos bois também. Mas qualquer um em sã consciência sabe que o buraco é bem mais embaixo, e a ética (quase) sempre vai falar mais alto se pararmos para pensar. Não vou entrar em detalhes para não me estender, mas eu vejo como dois pesos e duas medidas.
O que me fez não gostar tanto assim de Jantar Secreto foi o Deus ex-machina que Raphael põe em prática, algo que eu já tinha visto acontecer em Dias Perfeitos. São muitas situações convenientes para os personagens, o que torna a obra uma ficção quase surreal, que pra mim soou bem distante da nossa realidade atual. Não sou ingênua a ponto de dizer que algo semelhante jamais aconteceria*, mas acho que a construção da “situação” é que foi pouco convincente.
Mas a escrita do autor é ótima e evoluiu muito em relação a Dias Perfeitos. Os diálogos soam reais e não há muitas firulas. Uma cena em especial é apresentada através de uma conversa de Whatsapp, e é um dos pontos altos do livro!
Recomendo a leitura para os fãs do autor ou para aqueles que quiserem conhecer seu trabalho, mas se seu estômago é fraco, melhor optar por alguma outra obra de Raphael.
Beijos e até o próximo post!
Beijos e até o próximo post!
0 comentários:
Postar um comentário